Nas últimas duas décadas, a cada ano que passa, o consumidor que acompanha os lançamentos da indústria automobilística nas feiras mundiais é apresentado a vários protótipos de carros elétricos que vão ser lançados no mercado.

Vão, vão e acabam não sendo. O carro elétrico é uma antiga promessa que vai e volta ao mercado conforme o humor dos fabricantes e as oscilações do preço do barril de petróleo, matéria-prima usada na fabricação da gasolina.

Num momento em que o planeta procura combustíveis não-poluentes o carro elétrico bem que poderia resolver muitos problemas de emissão de dióxido de carbono (CO2) e diminuir o impacto do aquecimento global. Afinal de contas, ele oferece vários benefícios para o meio ambiente:

– A eletricidade é mais barata do que a gasolina e pode ser obtida de várias fontes renováveis, como a energia solar
– Polui menos, é mais confiável e exige menos manutenção do que os convencionais
– Pode ser abastecido em casa, ajudando a diminuir a dependência de petróleo
– Usa a rede elétrica sem a necessidade da implantação de uma nova infraestrutura de abastecimento, como acontece com o hidrogênio (H2), seu sucessor

Mas se ele é tão bom assim para o planeta por que até hoje não chegou às ruas e às estradas de todo o mundo? Na verdade, ele chegou às ruas, mas pouca gente viu.

Então, o que falta para que o carro elétrico se torne um produto atraente para o mercado? Para tentar entender o que tornou o carro elétrico numa eterna promessa o R7 contatou os principais fabricantes de automóveis do mercado.

Depois de duas semanas, até o fechamento desta reportagem, nenhum deles se mostrou interessado em falar sobre seus antigos modelos de carro elétrico - só falariam sobre modelos híbridos, a nova aposta do mercado depois que o presidente George Bush liberou US$ 1 bilhão (R$ 1,7 bilhão) para investimentos no desenvolvimento do carro a hidrogênio em 2003.

Nenhum fabricante quer falar do relativo "fracasso" dos modelos de carro elétrico que foram lançados nos Estados Unidos no final da década de 90 e retirados das mãos de seus poucos donos.

Mas um documentário chamado Quem matou o carro elétrico?, dirigido por Chris Paine e lançado em 2006 - que pode ser alugado em DVD em algumas locadoras do país - quis.

O filme conta uma boa parte do desaparecimento dos elétricos do mercado, revelando as histórias de engenheiros e ex-diretores dos fabricantes e de consumidores que testaram e aprovaram a tecnologia, como os atores Mel Gibson e Ed Begley Jr, um ator 100% dedicado à sustentabilidade, que inclusive tem um programa sobre o assunto, exibido na TV a cabo, chamado Vivendo com Ed.

Entre os principais fatores apontados pelo documentário e por especialistas estão a indústria do petróleo, a falta de publicidade, a baixa autonomia da bateria e o baixo lucro para os fabricantes.

O primeiro modelo de carro elétrico foi criado no final do século 19. Mas o grande impulso só foi dado em 1996, quando a General Motors (no Brasil, Chevrolet) lançou o EV1 (veículo elétrico, na sigla em inglês), o primeiro modelo produzido em massa. Depois do EV1, vários fabricantes também lançaram suas versões. A Honda lançou o EV Plus. A Ford, o Th!nk (pense, em português) e o Ranger EV. A Toyota, o RAV4 EV. E a Nissan, o Altra EV.

O EV1 e seus concorrentes agradaram em cheio aqueles consumidores que já se preocupavam com o meio ambiente na época. Do ponto de vista da produção de um veículo elétrico viável, ele foi um sucesso. Mas para a General Motors e suas concorrentes certamente não foi um sucesso de vendas já que as altas margens de lucro obtidas com os carros convencionais não passaram de uma promessa para o futuro.

Quem o testou aprovou, mas teve de lutar até o final, quando a GM resolveu tirá-lo do mercado, entre 2003 e 2004. Até hoje, o EV1 é considerado o carro elétrico mais bem-sucedido da história do automóvel.