Um ano após a morte da adolescente Eloá Pimentel, de 15 anos, em Santo André, foram divulgadas imagens inéditas que mostram as gravações da negociação com o sequestrador Lindemberg Alves, de 22 anos, feita pela polícia nas mais de 100 horas de cárcere.

Durante o tempo em que esteve no cativeiro, Eloá foi vítima de agressões, confirmadas pelo ex-namorado. “Eu estou agredindo a minha namorada. Essa desgraçada aqui.”

Logo nos primeiros contatos com os negociadores, o ajudante de produção, revoltado com o fim do namoro, se mostrou agressivo. “O que você quer? Fala para mim para eu poder te ajudar, cara”, questiona o policial. “Matar a Eloá, me matar e liberar a Barbie”, responde Lindemberg.

Barbie era o apelido de Nayara Silva, de 15 anos, a melhor amiga de Eloá. Nayara também foi feita refém. Em um primeiro momento, iludida, ela chegou a dizer que as duas estavam prestes a ser libertadas. “O acordo está feito, só que é no tempo dele.”

Durante as negociações, o rapaz fez ameaças. “Se chegar perto do apartamento, se relarem na janela, na porta, fizer qualquer barulho, eu vou matar as meninas e depois eu vou me matar. Eu vou atirar, mano. Eu tenho um saco de bala aqui, mano. Eu não tenho preguiça.”

Nayara chegou a ser solta na terça à noite, segundo dia do sequestro. Na quinta-feira, o rapaz prometeu libertar Eloá se Nayara voltasse ao cativeiro. Ela conversou com ele, que disse estar calmo. A garota também falou com a amiga, que pediu que nenhum policial subisse junto.

Na preparação para Lindemberg se entregar, no entanto, Nayara chegou até a porta do apartamento e foi puxada por Lindemberg. Novamente no cativeiro, ela disse que o seqüestrador aparentava estar mais calmo. “Eu entrei aqui, consegui acalmar ele. Ele está bem, está calmo, entendeu? Está decidido.”

Inconformada, a mãe de Nayara reclamou, mas Lindemberg prometeu liberar as duas, o que não cumpriu. Para o comando da PM, os policiais não deveriam ter permitido o retorno de Nayara ao apartamento, e podem receber uma advertência.

“A responsabilização da polícia é algo para se pensar, sim”, afirma o advogado da Nayara, Marcelo Augusto de Oliveira. “Em nenhum momento, nós planejamos esse resultado de ela ter retornado”, diz o comandante do Gate, Adrianao Giovaninni.

 

O negociador


Giovaninni aparece nas imagens tentando convencer o rapaz a se entregar. Ele tem uma explicação para a atitude de Nayara. “Eu tenho plena certeza de que ela assumiu esse risco convicta de que estaria ajudando a sua amiga.”

 

No último dia de cárcere, pouco antes da tragédia, Lindemberg já mostrava sinais de preocupação com o desfecho do caso. “Eu vou te mandar a real, o que que está pegando. Eu não vou sair daqui para ir para a cadeia, porque se eu for para a cadeia, eu vou me matar lá, mano.”

O então advogado de Lindemberg e um promotor de justiça foram chamados. Eloá puxou uma corda de lençóis com um documento que garantia a integridade física do sequestrador. A negociação chegava ao fim. “Não tenho mais sentimento nenhum. Sentimento nenhum eu tenho. Sou um cara sem sentimento, sem coração agora. Deixa bem claro pra população que está chegando ao fim, mano.”

Desfecho trágico

 

Cerca de dez minutos depois, o apartamento foi invadido. Lindemberg atirou em Eloá e em Nayara. Eloá morreu, e Nayara foi ferida no rosto. Segundo a polícia, foi um tiro, antes da entrada dos policiais, que motivou a invasão.

O tiro com certeza foi disparado pelo Lindemberg dentro do apartamento, diz Giovaninni. O advogado da Nayara rebate e diz que a garota, que estava no local, refuta a versão.

A investigação da PM indica que, além dos policiais, outras testemunhas também afirmam que houve um tiro. Mas, ainda de acordo com essa investigação, não foi possível comprovar se Lindemberg fez mesmo um disparo antes da invasão. Para o comando da PM, a ação dos policiais foi legítima e sem falhas, na tentativa de salvar as vítimas.

Dois promotores acompanham o caso Eloá: um acusa Lindemberg do assassinato da garota. O outro apura se houve erro na ação policial. Eles afirmam que os homens do Gate tinham que invadir o apartamento porque Lindemberg ia atirar nas jovens. Para o Ministério Publico, o rapaz é o único responsável pelo fim trágico do caso.

“Os policiais agiram na intenção de salvar essas moças. A conduta do Lindemberg é muito clara, é patente, ele agiu com a intenção de matar”, afirma o promotor de Justiça Antonio Nobre. “No meu entendimento, se a Polícia Militar não promovesse a invasão naquele instante, o desfecho poderia ter sido muito pior”, diz o promotor da Justiça Militar Waldevino de Oliveira.

Lindemberg Alves está preso na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. A previsão é que o julgamento aconteça até o meio do ano que vem. A pena pode chegar a 30 anos de reclusão. A advogada dele não quis se manifestar. Nayara também não quer falar sobre o caso. Ela tenta retomar a vida e esquecer o drama vivido no ABC.