Quando soube que Osmar, seu papel em "Viver a Vida", seria um produtor de moda, Marcelo Valle começou a buscar as mais diversas referências para entender o universo que cerca o personagem. Do livro "Vida de Modelo", autobiografia do agenciador de modelos John Casablancas, a vídeos de bastidores de desfiles, o ator "devorou" várias informações do mundo fashion. "Gosto das coisas artesanais. Faço uma imersão, penso naquilo o dia inteiro. Leio livros, vejo filmes e até obras de artes plásticas para me inspirar", revela.
A história é um bom exemplo da maneira como ele, que é cria do teatro, está acostumado a trabalhar. Mas, apesar de estar habituado aos longos processos de captação e apresentação de peças, ele se mostra empolgado com o estilo de Manoel Carlos - conhecido por programar muito pouco da história, cujas cenas muitas vezes vão ao ar no mesmo dia em que foram gravadas. "Acho isso incrível, porque mexe com algo que eu não estou acostumado a trabalhar. Não sei onde isso vai dar", valoriza.
Um dado curioso é que as três novelas em que Marcelo esteve eram folhetins do horário nobre: em 2003, ele esteve em "Celebridade" e, em 2007, em "Paraíso Tropical", ambas de Gilberto Braga. E agora "Viver a Vida". Tudo mera coincidência, segundo o próprio. "Calhou de acontecer. O Gilberto e o Dennis Carvalho acompanham teatro, já conheciam o meu trabalho. Assim como o Maneco, que me viu em 'Divã'", explica Marcelo, mencionando a peça baseada no livro da escritora gaúcha Martha Medeiros e na qual dividiu o palco com Lília Cabral durante três anos.
Sua carreira é essencialmente teatral, com mais de 20 peças no currículo. Como você foi para a tevê?
Comecei a prestar atenção na tevê por uma questão de segurança financeira. Hoje, faço porque curto mesmo. É um veículo que não domino - é diferente do teatro, onde conheço os artifícios do palco e tenho segurança. A tevê é um mistério que quero desvendar, que tem um ritmo e um sabor diferentes. É uma dinâmica que me instiga.
O Osmar é um personagem que, originalmente, é bissexual. Como você está trabalhando essa informação?
É engraçado, porque essa é uma informação grande - mas, ao mesmo tempo, é algo vago. Não estou criando trejeitos: estou montando um personagem independentemente da opção sexual dele. Porque pode ser que seja apenas uma indicação do autor, mas que ele não vá desenvolver. Ou pode ser que o Maneco queira problematizar essa questão, expor o conflito. Mas não sei como vai ser. Digo que estou à disposição do Manoel Carlos para o que ele precisar.
Você citou as memórias de John Casablancas como um dos pontos de partida da sua composição. Quem mais serviu de inspiração para o Osmar?
Na verdade, a primeira inspiração teve de ser em mim mesmo. Esse foi o direcionamento do Jayme: ele falou que queria que o personagem partisse da minha forma de ver o mundo. A partir daí é que fui estudar, comprei livros de moda... comecei a entender como funciona a moda, a diferença entre uma modelo e uma "top", para que isso já ficasse no meu inconsciente.
Além da novela, você continua com as apresentações de "A História de Nós 2". Tem sido fácil conciliar os dois compromissos?
O Ernesto Piccolo, diretor da peça, me cobre quando não posso ir. Mas confesso que me causa um certo desconforto. Me sacrifico o quanto for preciso para estar no palco. Teatro é uma doação - ou melhor, a arte é uma doação. Já gravei com dengue, fiz peça depois de sair do soro. O ator recria a realidade, né? Então, a gente cria a energia que não tem.