A Telefônica, operadora de telefonia fixa e banda larga, mostrou na semana passada que comer quieto é uma boa estratégia para vencer nos negócios. A empresa espanhola fez uma oferta pública de ações (OPA) de R$ 6,5 bilhões pela concorrente GVT. Se firmado o negócio, a Telefônica estará solucionando três problemas de uma só vez. Além de tomar corpo para brigar com a gigante do setor, surgida da fusão entre Oi e Brasil Telecom, a Telefônica conseguiria expandir suas operações para fora do Estado de São Paulo e impediria a entrada de outro concorrente de porte no mercado nacional – o grupo francês Vivendi, que há duas semanas havia acertado com a GVT a compra da operadora por R$ 5,4 bilhões.

A esperteza da Telefônica, segundo analistas, foi fazer a oferta sem se preocupar em informar a GVT sobre o negócio. Como quase 70% das ações estão pulverizadas no mercado, a Telefônica decidiu apelar diretamente aos acionistas e marcou um leilão de ações para o dia 19 de novembro, de acordo com o edital enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apesar de os principais acionistas da GVT – a Global Village Telecom Holland, a Swarth Investments LLC e a Swarth Investments Holdings LLC – já terem praticamente acertado o negócio com a Vivendi, se os acionistas minoritários aceitarem vender seus papéis, os majoritários não terão como impedi-los. Por essa razão, o movimento da Telefônica foi considerado hostil.

A Vivendi, líder do segmento de entretenimento na Europa, seguiu os caminhos convencionais: procurou a holding que administra a GVT para negociar. Mas não divulgou edital. Esse descuido permitiu que a Telefônica se beneficiasse de uma regra da CVM, que estipula que propostas não oficializadas devem ser, no mínimo, 5 pontos percentuais superiores àquelas já anunciadas. Com isso, a Vivendi, que tinha acertado o preço de R$ 42 por ação da GVM, precisaria subir sua proposta para R$ 50,40 – superior aos R$ 48 oferecidos pela Telefônica. “A consequência da nossa estratégia é esse benefício”, afirmou Gilmar Camurra, vice-presidente de Finanças da Telefônica. “Sabíamos que havia essa alternativa e ela foi utilizada”. Assim, de concorrente, a Telefônica se tornou a privilegiada no negócio.

A Vivendi informou que não vai se pronunciar sobre a disputa. A direção da GVT diz só ter tomado conhecimento da proposta por meio do edital e preferiu não comentar. Qualquer negociação, porém, precisa ser aprovada em assembleia de acionistas da GVT, ainda sem data marcada. Como pré-condição, tanto Telefônica quanto Vivendi afirmaram que é preciso adesão de 51% dos papéis da GVT, além da dispensa da cláusula de contrato que obriga a dispersão acionária. Na prática, as duas empresas querem o controle da GVT ou nada feito. O negócio ainda precisaria ser aprovado pela Agência Nacional de GTelecomunicações (Anatel), para garantir que não haja sobreposição de serviços, e passar por um eventual escrutínio por parte dos órgaos de defesa da concorrência.

Para os usuários da GVT, a proposta pode causar apreensão. A empresa se destacou frente às gigantes por causa de suas inovações tecnológicas. Toda sua estrutura é composta por cabos de fibra ótica, o que permite uma conexão rápida e constante. A Telefônica, por sua vez, já foi autuada pela Anatel por causa de panes em seus seviços e foi temporariamente proibida de vender seu produto de banda larga, o Speedy. Para o analista sênior da consultoria Yankee Group, Júlio Püschel, se a Telefônica arrematar a GVT, os usuários não precisam se descabelar com medo de sua conexão ficar mais lenta. “A rede que atende os clientes da GVT já está montada”, diz. Gilmar Camurra, da Telefônica, explicou que a ideia é manter as duas empresas separadas administrativamente. Mas como nada está certo, sobram especulações. Como o boato que roda o mercado, de que a mexicana Telmex, que controla a Embratel e a Net, estaria entrando no leilão para não se diminuir ante as concorrentes. Enquanto o martelo não for batido, a GVT será alvo de todos os tipos de especulação.