Por mais que os conteúdos na web se tornem cada vez mais multimídia, com áudio, vídeos e animações, ainda existe muita gente no Brasil que acessa a internet pela conexão discada, que é muito mais lenta. O paulista Leandro Fernandes Alves, morador de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, ainda precisa ouvir o irritante e inesquecível barulhinho da discagem ao navegar na rede.
Ele conta que usa muito a internet para pesquisas e adora ver vídeos, mas algumas vezes precisa ir até a LAN house mais próxima para conseguir uma velocidade menos sofrível.
- Quando acesso pela LAN house percebo que a qualidade da banda larga brasileira é boa, mas muito cara. Cheguei a pagar por um plano de internet discada ilimitada durante alguns, mas fiquei desempregado e tento ver meus e-mails de madrugada. Aos finais de semana, quando tenho mais tempo para assistir vídeos e fazer pesquisas mais demoradas vou á LAN house porque compensa mais.
A Pesquisa TIC Domicílios divulgada anualmente pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) mostra que até o final do ano passado 31% dos domicílios que usam a internet no país ainda se conectavam pela rede discada.
Na luta pelo cliente, as operadoras de telefonia oferecem banda larga a preços mais baratos, com velocidades a partir do triplo da internet discada. Os planos mais acessíveis nem sempre são potentes, mas representam uma oportunidade para quem quer pagar pouco e se livrar da demora na conexão e principalmente da baixíssima velocidade discada.
José Calazans, analista de mídia do Ibope Nielsen Online, descreve que o uso da conexão discada acontece principalmente entre os mais jovens.
- Em geral, são crianças e adolescentes, já que adultos não têm muita paciência para usar a internet lenta. A quantidade de horas mensais navegadas é menor que a dos assinantes de banda larga porque, com mais velocidade, as pessoas ficam mais tempo e usam mais serviços.
Falta de opção
Muitos internautas recorrem a conexão discada como complemento aos serviços de banda larga que não funcionam corretamente. O estudante de economia André Zago mora em Maringá (PR), onde faz faculdade, e diz que usa a internet rápida e discada. No Paraná ele contratou um plano de 10 megabytes. Zago também é assinante de um plano de 1 megabyte do Speedy em Osvaldo Cruz – interior de São Paulo – onde mora sua família. Ele conta que lá o serviço nunca funciona direito.
- Acabo usando a conexão discada nos dois lugares sempre. Não acho tão ruim. Trabalho numa empresa que vende cursos e como não sei se os clientes têm banda larga, envio e-mails pela internet discada e assim consigo saber se as mensagens que eu mando podem ser abertas rapidamente por qualquer pessoa.
Limitação
Zago passa cerca de três horas por dia na internet e quando não usa banda larga sua navegação é limitada apenas à troca de e-mails. Ele evita acessar o Twitter e fazer downloads de arquivos muito pesados, mas conta que não demora muito tempo para conectar seu PC à rede.
- Antigamente, quando a maioria dos brasileiros usava internet discada parece que demorava mais. Hoje, entro na internet em cinco minutos.
Há quem use a internet discada apenas porque tem problemas na infraestrutura da rede de banda larga na região onde mora. É o caso de Alberto Marsola Júnior, morador de Belém (PA). Desde fevereiro, quando se mudou do centro da capital paraense para um bairro um pouco mais distante, ele diz que não consegue contratar um plano de internet rápida.
- A operadora fala que o meu número de telefone está em análise e não libera o serviço, embora residências vizinhas do condomínio usem banda larga normalmente. Já tentei o 3G - serviço de banda larga móvel -, porém a velocidade é péssima.
Com tantas limitações, Júnior contratou um plano da sua operadora de celular que dá descontos nas ligações e oferece internet discada ilimitada a um valor fixo.
- Estou satisfeito com a internet discada porque acesso à web por quatro horas diárias e, se não fosse um plano ilimitado, gastaria muito mais na conta telefônica. A velocidade não é das melhores para baixar músicas. Consigo postar normalmente no meu blog e conversar com amigos.
Dados do Ibope Nielsen Online sobre o mês de julho mostram que 19% dos brasileiros (ou 7,5 milhões de pessoas) que usam a internet fazem a conexão em baixa velocidade (128 kilobytes). A pesquisa é restrita aos internautas com 16 anos ou mais de idade e que têm telefone fixo ou celular.
Calazans diz que as novas tecnologias vão acabar com a conexão discada.
- Em países europeus a participação da conexão discada vai de 1% a 3%. Ainda há muita gente no Brasil que não tem dinheiro para navegar em alta velocidade. Isso vai mudar definitivamente quando as empresas melhorarem a infraestrutura dos serviços de internet rápida.









