Um instrumento simples, sem sofisticações. Uma sonoridade comum aos ouvidos do povo nordestino, dos alagoanos. Assim é o pífano. Feito inicialmente a partir da taboca e da taquara — tipos de bambu — ele se assemelha a uma flauta e tem sido o meio de sobrevivência de vários alagoanos. A origem do pífano é desconhecida, certo mesmo é que ele foi um dos primeiros instrumentos melódicos feitos pelo homem, já que pertence à família da flauta.

Para cada tonalidade, um pífano é confeccionado. Isso porque, conforme explica o maestro Almir Medeiros, ele não é um instrumento cromático, ou seja, não possui a escala de sustenidos e bemós — que elevam ou abaixam a nota musical. “O pífano é um instrumento primitivo, que tem que se adaptar à tonalidade dos outros instrumentos”, afirmou o maestro.

Conhecido também como pífaro ou simplesmente pife, ele hoje vem sendo confeccionado também com aço inox e alumínio, o que, para quem entende do assunto, é bem mais vantajoso. É o que afirma o músico alagoano que carrega o instrumento até no nome, Chau do Pife. “O pife feito da madeira desafina com o tempo por conta do suor das mãos, mas esse de aço não desafina, você leva para o fim da vida”, conta.

Chau do Pife, hoje com 50 anos, conheceu o instrumento ainda criança, quando o pai dele lhe entregou uma taboca furada para ele tocar e tanger os pássaros que ameaçavam comer a plantação de milho. Aos oito anos, ele começou a se interessar pelo som e, aos 12, saiu da cidade de Boca da Mata para tocar. E ele não parou até hoje.

Mesmo sem ter estudado música, Chau do Pife fala com propriedade das notas musicais, reconhece cada uma delas só de ouvir e, com simplicidade, tem encantado as pessoas por onde passa. “Muitas pessoas pensam que o pife não é instrumento porque ele é simples, mas para tocá-lo é preciso saber, se o tocador não tiver conhecimento só faz enganar”, fala.

Ele conta que o espaço entre os “buracos” responsáveis pelas notas musicais são importantíssimos na hora da confecção do instrumento e que cada música exige um sopro diferente do tocador. “Se botar o espaço errado não tem como sair afinado”, diz.

Chau do Pife vive do som que tira do pífano e não esconde sua paixão pelo instrumento, e pela música. “Esse é um dom que Deus me deu. Se tirassem o pife de mim não sei o que faria”, confessa.

Aos 78 anos, quem também não esconde a paixão pelo instrumento é João Galdino da Silva, conhecido como Mestre Bia. Autodidata, além de tocar, ele dá aulas para jovens de Viçosa e ajuda a difundir o som tão característico de Alagoas. “Eu toco desde 1952 e isso é um presente que Deus me deu”, diz.

As bandas de pífano existentes em Alagoas são as Bandas de Pífano Esquenta Muié; dos Ambrósios; Nossa Senhora das Dores; Mestre Bia; Consagra Jesus, Maria e Todos os Santos; Flor do Nordeste e Sagrado Coração de Jesus. A lista completa, com detalhes a respeito de cada uma delas, pode ser encontrada no site da Secretaria de Estado da Cultura (www.cultura.al.gov.br).