"Será que eu vou dar conta?" É com esta frase, entre risos, piscadelas e o habitual ar sedutor que José Mayer começa a fala sobre seu novo personagem, o Marcos de "Viver a Vida". Galã certo nas tramas de Maneco desde "História de Amor", de 1995, o ator vai, segundo suas próprias palavras, mais uma vez "convergir para uma esquina, uma confluência onde vêm inúmeras mulheres".

Isso porque Marcos, ex-marido de Teresa, vivida por Lília Cabral, vai se casar com Helena, modelo 30 anos mais nova interpretada por Taís Araújo, e ainda se envolve com Dora (Giovanna Antonelli)... Isso só para começar o folhetim. "O que significa muita história, muito texto para decorar e muitos conflitos", valoriza o ator, que completa 60 anos em outubro.

Mas nem só belas mulheres vão cercar a vida do personagem. Empresário do ramo de turismo, Marcos tem de lidar com o abuso de confiança de seus administradores, bem como a crise econômica. "Há alguma coisa obscura na condução dos negócios dele", adianta. Ele viverá também um drama ao ver a filha mais velha, Luciana (Alinne Moraes), ficar tetraplégica após um acidente. "Não faltarão situações para que eu possa fazer um trabalho emocionado interessante", diz.

José tem consciência de que a tendência é de que os papéis de galãs sejam cada vez mais escassos. Seu último personagem na TV, o lunático Augusto César de "A Favorita", reforça a ideia - embora, na trama, ele tenha se envolvido com as personagens de Juliana Paes, Giulia Gam e Cláudia Raia. "O tempo me faz caminhar. Daqui a pouco chegarei aos padres, aos avós... Saberei quando isso deve chegar ao fim", afirma, aos risos.

Ser sempre escalado por Maneco para papéis de "garanhão" incomoda de alguma forma? Não acha repetitivo?

De forma alguma. Essa predileção do Maneco, a deferência com que ele me trata e a insistência em me escalar, enxergo como um elogio profissional muito grande. Me injeta uma grande dose de autoconfiança. Atores em geral são inseguros. A gente nunca fica muito convicto em relação à nossa própria capacidade. E as histórias solicitam muito dos galãs, eles são referenciais importantes. Entendendo que tanto no cinema quanto na TV uma certa especificidade seja normal. Cada pessoa tem características predominantes, e as minhas servem aos personagens que me são dados. É normal que eu faça parte de uma galeria de tipos.

As Helenas do autor são, normalmente, mulheres maduras. Justamente agora, que você está prestes a completar 60 anos, vai contracenar com uma protagonista bem mais jovem. Sente-se envaidecido ou desafiado com isso?

É um problema para mim e para o Maneco, porque ele terá de ter uma compreensão maior do pensamento das mulheres dessa faixa etária e eu terei de contracenar com uma mulher que tem a metade da minha idade. É uma nova mulher, emancipada... As Helenas dele são muito fortes. Mas esta, em especial, com seus 30 anos, é um problema para nós dois.

Como está sendo encarar este "problema"?

Tive a sorte de gravar minhas primeiras cenas nos jardins do Museu do Louvre, em Paris. Cenas românticas, de beijo... E ainda sem texto. A Taís é uma atriz espetacular, receptiva. Imediatamente o clima amoroso entre nós se instalou sem necessidade de processos complicados. Isso é maravilhoso porque essa química é de consentimento, de aceitação. Quando você se propõe a admirar uma pessoa e se apaixonar por ela, é fantástico. Sou apaixonado por você, então estou apaixonado por você. É uma coisa que com o passar dos anos e a experiência a gente faz num clique, num passe de mágica.

Seu último papel, o Augusto César de "A Favorita", fugiu ao galã. Em que situação você se sente mais à vontade?

O João Emanuel é um talento de outra natureza. Ele prioriza a ação e envolve o telespectador num frenesi, num redemoinho de acontecimentos. O Maneco prioriza o sentimento, a humanidade. Ele faz da novela uma espécie de espelho da realidade. Me sinto bem porque gosto do realismo, faço um trabalho mais seco e econômico. Estou muito confortável voltando ao velho personagem.