A novela “Caras e bocas” exibirá nesta terça-feira (15) sua cena de maior impacto. Passando por um tratamento quimioterápico contra um câncer de mama, a personagem Tatiana (Rachel Ripani) decide raspar os cabelos ao se dar conta de que inevitavelmente irá perdê-los.
Corajosa, Rachel disse que não titubeou ao saber da passagem cruel que o autor Walcyr Carrasco havia reservado para sua personagem. “Essa cena é muito maior que a minha vaidade de mulher”, conta a atriz paulistana de 32 anos.
Rachel segue a trilha de outra atriz que protagonizou sequência semelhante – e que marcou a história da teledramaturgia nacional. Em 2000, Carolina Dieckmann deu adeus aos seus fios platinados em cena. Na novela “Laços de família”, de Manoel Carlos, sua personagem, Camila, sofria de leucemia e também optava por raspar os cabelos ao iniciar o tratamento contra a doença.
Mas nem todas as atrizes aceitam o sacrifício em nome de uma cena emocionante. Recentemente, Cameron Diaz preferiu recorrer à ajuda de truques tecnológicos no filme “Uma prova de amor”.
Na história, sua personagem, Kate, decide ficar careca para que a filha, que sofre de câncer, se sinta menos incomodada com o fato de perder as madeixas. A atriz não aceitou o desafio e técnicas de edição a mostram sem os cabelos em cena.
Loira na vida real e ruiva por conta da personagem, Rachel garante que o choque inicial com seu novo visual já passou. “Acho que já já vou tirar onda!”
Na entrevista a seguir, Rachel fala dos bastidores da gravação.
G1 – Você cogitou desistir da cena?
Rachel Ripani - Não. Até me perguntaram se eu voltaria atrás se pudesse, mas, mesmo tendo muito medo, queria muito fazer isso pela Tatiana, pela história da novela, pelas mulheres que potencialmente podemos ajudar através dessa trajetória. Essa cena é muito maior do que a minha vaidade de mulher.
G1 - A tristeza de perder os cabelos te ajudou a emprestar a emoção necessária para a personagem?
Rachel - Ajudou, claro. A tristeza da Tati era a minha, a insegurança de ficar feia também, era um momento de vida frágil para ambas. Personagem e atriz se misturaram muito naquele dia.
G1 - Conte um pouco dos bastidores da gravação.
Rachel - O diretor foi o Ary Coslov. Quando entrei no estúdio dei um abraço nos câmeras, que são meus amigos, o Dartagnan, Marquinho, Chandão, no Damiano. Agradeci a presença de todos ali e a força que estavam me dando, e rezamos juntos uma oração para o anjo da guarda, como a gente faz em teatro. Escondi uma caixa de lenços debaixo da cama da Tatiana porque sabia que ia precisar, e todo mundo ficou muito concentrado e emocionado. Eu tinha levado minha mãe para me acompanhar, caso eu ficasse triste demais, mas no fim ela chorou mais do que eu! O Marquinho [câmera] teve que consolar ela. Vê se pode... Quando eu olhei no espelho, no meio de uma cena, eu me surpreendi porque não achei que tinha ficado tão ruim quanto eu temia, e fiquei feliz. Ali Tati e Rachel se separaram, porque a Tati se acha horrível sem cabelo e eu acho que já já vou tirar onda!
G1 - Como foi a preparação para interpretar uma jovem que sofre de câncer?
Rachel - Acompanhei uma senhora que estava indo ao salão raspar o cabelo por causa do câncer. Foi uma experiência emocionante, o carinho das pessoas todas, a proteção e gentileza entre as mulheres do salão... A peruqueira que fez minha peruca me contou algumas coisas também. Conversei com amigas que tinham tido cancêr de mama, várias, vi vídeos delas. Uma amiga me mostrou a cicatriz de sua operação de mama, me deixou tocar nela. Me emocionei muito, e achei linda. Aquela cicatriz era a prova de que ela sobreviveu, uma lutadora corajosa. Também fui à corrida contra o câncer de mama do IBCC [Instituto Brasileiro de Controle do Câncer]. Aliás, vou visitar o hospital amanhã, sinto uma grande responsabilidade por falar nesse assunto e tento me informar o máximo possível para passar a realidade com a dignidade de quem passa por isso.
G1 - Sua personagem sofreu preconceito ao namorar um judeu ortodoxo. Como tem sido a repercussão junto a esta comunidade?
Rachel - A comunidade ortodoxa e judaica em geral tem acompanhado de perto a novela, e eles tem opiniões muito fortes a respeito. Vivem me dando opiniões, livrinhos de oração (já aprendi algumas e alguns salmos também), amuletos... Eles adoram a novela, e se sentem muito bem representados. Estamos muito felizes com a resposta deles.