Doze anos antes de Luiz Felipe surpreender ao deixar o futebol europeu para treinar o Bunyodkor, do Uzbequistão, um gaúcho nascido em Porto Alegre aceitou o desafio, tomou o rumo da Ásia e virou uma espécie de pioneiro no país. Ubirajara Veiga da Silva, 54 anos, formado nas categorias de base do Inter, que virou Birinha nos tempos em que jogou no Caxias ao lado de Tite, passou dois anos no Uzbequistão a partir de 1997. No início, treinou o Parktakor, clube bem mais tradicional que o Bunyodkor de Luiz Felipe, e com ele foi campeão nacional e chegou às quartas de final da Copa Asiática. Foi tão bom o trabalho que no ano seguinte, em 1998, passou a dirigir a seleção nacional e foi semifinalista da Copa da Ásia. Foi eliminado pelo Irã. Pai de cinco filhos (26 anos, 24, 22, 11 e cinco), casado pela segunda vez, ele está de volta a Maceió, depois de voltar de uma curta experiência como técnico em Trinidad e Tobago. De lá, por telefone, Bira (último à D, na foto) falou sobre o que significa trabalhar em um país desconhecido.
Como você foi parar tão longe?
Bira Veiga – Eu trabalhava no CSA (Clube Esportivo Alagoano, de Maceió) e meu currículo foi enviado para o clube. Eles gostaram, fizeram a proposta e eu fui. Trabalhei no Parktakor, depois assumi na seleção. Fiquei um ano e três meses na seleção. Cheguei a renovar contrato, mas aí surgiram algumas dificuldades e tive de voltar.
E como era trabalhar tão longe?
Bira – Na época, era bom, mas não como agora. Hoje, eles estão investindo muito mais no futebol. Contrataram o Zico, investiram no Rivaldo, agora estão levando o Felipão. Melhorou ainda mais.
A adaptação foi tranquila?
Bira – O ambiente era muito bom. O time para o qual fui era ainda maior do que o atual do Felipão. Ficou fácil porque todos queriam aprender. Na parte física nem precisava porque eles sempre privilegiaram a preparação. O único problema era o frio, que às vezes chegava a 20°C abaixo de zero. O torcedor é bem diferente do nosso. Ele é mais quieto, não diz palavrões até porque quando diz a torcida interfere. Eles gostam de futebol, vão evoluir muito.
O Felipão não terá dificuldades?
Bira – Não tenho dúvidas de que dará certo. Ele gosta de disciplina, tem a cultura gaúcha, e lá eles gostam disso também. E são organizados. Só para dar uma ideia, na minha época o clube tinha um centro de treinamentos com quatro gramados, dois prédios de apartamentos (um só para os times visitantes) com sauna e piscina, dois ônibus para o transporte do time. Os jogadores iam até um local, eram levados e trazidos do treino, jantavam no clube e depois eram deixados em casa.
E como é a capital Tashkent?
Bira – É moderna, planejada, segura. A temperatura é que muda muito. Chega a mais de 40°C no verão, desce a 20°C negativos no inverno. Mas é fácil de suportar porque é diferente do nosso frio. Lá é seco.
É um novo mercado?
Bira – Depois da ida do Zico, o futebol do Uzbequistão se profissionalizou mais. O Felipão terá sete campos de treinos para escolher e, nos próximos meses, seu time ganhará um estádio novo e moderno.
Este ano você teve uma nova experiência internacional?
Bira – Sim, fui contratado em novembro pelo Mapau, da capital. Comecei em novembro e voltei agora. O futebol do país ainda é muito amador. Terão de evoluir.
Como foi seu início de carreira?
Bira – Sou gaúcho de Porto Alegre. Joguei nas categorias de base do Inter de 1969 a 1975, com Batista, Caçapava, Chico Fraga. Era meia-direita. Depois, joguei no Caxias ao lado do Tite e do Geninho.
E a carreira de técnico?
Bira – Começou em 1989. Estava no Tanabi, da Série A-2 paulista, e estreei como treinador no Votuporonguense. Depois, passei por vários e cheguei a Alagoas, onde decidi ficar a partir de 1997.