Espalhados por ruas, aeroportos e lanchonetes de Johanesburgo, painéis iniciaram com erro nesta quinta-feira a contagem regressiva de um ano para a Copa do Mundo de 2010. Foi difícil encontrar algum relógio apontando 365 dias para o início da competição. Na verdade, impossível. Nenhum acertou na conta. A maioria apontava 364 dias. Mas, acreditem, tinha até relógio com 363 dias.
Alguns palcos já estão quase prontos, como o Ellis Park (sede da abertura e da final da Copa das Confederações), em Johanesburgo, e o Loftus Versfeld, em Pretória, construído em 1906, mas em plena atividade, principalmente em partidas de rugby. Outros, como o Orlando Stadium, servirão como local de treinos. Mas a grande estrela entre os estádios é o Soccer City, em Soweto, onde acontece o primeiro jogo e a decisão da Copa de 2010. Quando estiver finalizado, provavelmente no final deste ano, ele se tornará o maior da África, com capacidade para 94 mil torcedores.
Ao contrário dos 12 estádios da Copa da Alemanha e da Copa do
Brasil, na África serão apenas dez, espalhados por nove cidades.
Mas para modernizar cinco deles e construir os outros cinco, a
África do Sul deve gastar cerca de 1 bilhão de dólares, 285%
acima da previsão inicial. E praticamente todos os recursos vem
do dinheiro público. O primeiro a ser entregue foi o de Porto
Elisabeth, neste mês.
- Todos os estádios estarão prontos até outubro,
exceto o da Cidade do Cabo, que será finalizado em dezembro -
garantiu o presidente do Comitê Organizador, Danny Jordaan.
Além do estouro no orçamento, outra grande dificuldade da África do Sul é a falta de infraestrutura para um evento tão grande como a Copa do Mundo. Não há um sistema de transporte eficiente e quem não tem carro se locomove em vans. A linha especial de ônibus, que estava prevista para funcionar parcialmente durante a Copa das Confederações, não foi entregue a tempo. Enquanto isso, o governo recém-eleito enfrenta grande resistência dos motoristas de vans para regularizar o transporte público. Há também a escassez de energia - por causa dela, algumas cidades por vezes enfrentam apagões e as ruas e estradas não são bem iluminadas. A África do Sul deve ter a ajuda de países vizinhos para solucionar o problema.
O outro grande adversário é a criminalidade. Segundo dados
oficiais, a média do país é de cerca de 40 assassinatos a cada
100 mil habitantes - na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo,
são cerca de 38 a cada 100 mil habitantes. Uma das principais
causas é a desigualdade social - tal como o Brasil, a África do
Sul alterna áreas de grande desenvolvimento com lugares
esquecidos pelo poder público. Para evitar que a Copa seja
manchada pela violência, a previsão é de que 160 milhões de
dólares sejam usados só com segurança e que 41 mil policiais
trabalhem especialmente no evento. Mas mesmo com tantos
desafios, Jordaan aposta em uma grande Copa do Mundo.
- Um povo como o da África do Sul, que derrotou o
Apartheid (regime de segregação racial que perdurou por quase 50
anos no país), não vai aceitar uma derrota em um evento tão
importante como esse - comparou.
De fato, o Mundial é visto no país como a
oportunidade de mudar a imagem da África do Sul no resto do
planeta - de nação dividida à potência emergente e
multicultural. O caminho para esta transformação é longo, mas,
como lembram os painéis de contagem regressiva espalhados pelo
país, um dia pode ser alcançado.