Para Dirceu, 3º mandato seria erro grave e inconveniente

24/05/2009 04:04 - Política
Por antoniomelo

O ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado cassado acusado de envolvimento nos esquemas do mensalão, José Dirceu (PT), desembarcou em Fortaleza (CE) ontem (23). A convite da presidência estadual do partido, ele participou do debate "A crise financeira e os novos desafios do PT para o próximo período". Antes de reunir-se com a militância, porém, falou à imprensa.

 

O ex-ministro afirmou que a possibilidade da proposta de terceiro mandato ser aprovada no Congresso Nacional está completamente descartada tanto pela base aliada ao governo quanto pelo próprio Lula. "Já tínhamos rechaçado essa idéia não porque ela é inconstitucional. Se fosse, a reeleição aprovada em 98 para o Fernando Henrique (PSDB) também seria. Descartamos porque não é conveniente, adequada, nem contribui para a democracia brasileira. Imagine se tivéssemos cometido o erro grave de ter optado pela campanha do terceiro mandato e o País entrasse na crise em setembro ou outubro? O País ficaria dividido, confrontado", argumentou.

 

 

Segundo ele, o PT sustenta a tese da ministra Dilma Rousseff ser a candidata oficial de Lula para dar continuidade ao projeto político do partido dentro do Palácio do Planalto. Por conta disso, diz Dirceu, não existem articulações em torno de um "plano B", como alguns deputados federais e senadores especularam recentemente. "Não temos esse plano; temos uma candidata. E não é porque ela tem um linfoma (câncer no sangue) que vamos construir um terceiro mandato. Trabalhar com duas táticas nunca deu certo. Temos que fugir disso como o diabo foge da cruz", defendeu.

 

Ao citar Dilma, o petista destacou o desempenho da pré-candidata na última pesquisa de intenção de voto divulgada nacionalmente essa semana. Nela, Rousseff aparece com 20% e tecnicamente empatada com Aécio Neves (MG), um dos nomes do PSDB cotados para a disputa, mas ainda distante de José Serra (PSDB-SP).

 

Prevendo o apoio do PMDB à chapa montada por Lula para o próximo ano e admitindo que o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) pode lançar-se para o confronto, Dirceu arriscou: "acho que a Dilma vai chegar em 2010 empatada com quem for o candidato do PSDB. E digo isso porque não vejo o País querendo votar na oposição como queria quando era contra o Fernando Henrique em 2002. Vejo o Brasil querendo apoiar o que foi feito".

 

Ele ponderou que, apesar da proposta de Dilma ser de continuidade do projeto lulista, a plataforma de governo a ser lançada por ela necessitará de ajustes em relação ao que o Executivo fez até hoje. Como exemplo, indicou a realização de alterações no sistema financeiro nacional, que, para ele, está defasado. "O mundo que elegeu o Lula agora é outro. Por isso, precisamos de uma nova visão. Temos uma agenda nova para cumprir, que é uma candidatura que precisa ser construída com bandeiras e metas", vaticinou.

 

Dirceu se disse ainda contra a doença da ministra Dilma ser utilizada como palanque visando 2010. Muitos opositores têm reiterado críticas à maneira do Governo conduzir a divulgação do câncer enfrentado por ela e até aliados, como Ciro Gomes, chegaram a classificar como "cretina" a politização da enfermidade.

 

"E eu estou de acordo com ele (Ciro). Ela mesma já disse que não quer dramatização", comentou, descartando qualquer chance de Dilma deixar de ser a candidata oficial do PT. "Ela será a candidata e vou fazer de tudo para ela ser a futura presidente", adiantou.

 

O ex-deputado também não poupou críticas aos tucanos, que, no Congresso, defendem uma inspeção nas contas da Petrobras e acusam o Governo de "aparelhar" a estatal de extração de petróleo.

 

Dirceu garantiu que não teme os trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), mas criticou a formação de um grupo dessa natureza porque será utilizado como um instrumento para desestabilizar o Governo. "Não temos que ser a favor de tudo o que é CPI. O Congresso pode sim fiscalizar a Petrobras, mas essa CPI aí é de cunho político. Eles (PSDB) começaram 2010 da pior maneira. É um erro deles. E nós vamos mobilizar toda a nossa base", disse.

 

O ex-ministro ressaltou que, no Rio Grande do Sul, onde a governadora Yeda Crusius (PSDB) é acusada de diversas irregularidades, o ninho tucano não se mostra tão ferrenho quanto à instalação de uma CPI. Da mesma forma, afirmou que, em São Paulo, José Serra impede a criação dessas comissões, temendo o resultado delas sobre sua administração. "Assim como nunca houve CPI na Bahia do DEM durante os 20 anos de governo do ACM (Antônio Carlos Magalhães) direta ou indiretamente. Essa CPI da Petrobras é um problema político", finalizou.

 

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