Terça-feira, 31 de março. Enquanto a rádio da Feira de Toritama veicula notícias sobre a crise econômica mundial e seus efeitos no Brasil, os comerciantes do município pernambucano reclamam da falta de clientes e da conseqüente estagnação nas vendas. Eles esperam que a situação comece a mudar a partir meio de ano, com as tradicionais festas juninas que levam milhares de turistas ao Nordeste.

Entre uma música e outra, o serviço de alto-falante da Feira de Toritama dá um panorama sobre a crise econômico no país: queda nos preços dos imóveis, das motos e do material de construção e medidas tomadas pelo governo para manter a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) com o objetivo de estimular as vendas de automóveis e manter os empregos do setor.

A maioria dos feirantes, dos donos de confecções, dos vendedores de máquinas e dos prestadores de serviço não tem dúvida de que a crise chegou ao interior de Pernambucano com força, quase paralisando a produção e a comercialização das peças de jeans produzida na cidade. O marasmo nas vendas, de acordo com os lojistas da “cidade do jeans”, começou em dezembro do ano passado.

As fracas vendas não são comuns na localidade. Os moradores se orgulham do índice de desemprego zero, desconsiderando as situações de informalidade, e da média de rendimento bem acima de outras cidades nordestinas do mesmo porte.

“Muito cliente não veio neste ano [a Toritama]. De Manaus, de Salvador e até de São Paulo. São clientes antigos que compram no atacado”, disse a comerciante Neide Pereira, que vende peças feitas à base de jeans, como calças, bermudas, shorts e jaquetas.

Além da falta de clientes, Neide destacou que o preço do tecido de jeans, geralmente comprado em São Paulo, subiu. “Em três meses, o metro passou de R$ 7 para R$ 12. As vendas caíram. Não há como repassar esse aumento para o consumidor.”

Neide tem esperanças de salvar o faturamento da empresa com a ajuda das festas de São João. Ela passou a fabricar calças e bermudas em jeans com estampas em xadrez e torce para que a moda pegue nas maiores festas juninas do país, realizadas em Caruaru (PE) e em Campina Grande (PB).

“Esse jeans xadrez é novidade. A época das festas juninas já é boa e acho que quando virem que tenho esse xadrez, os clientes vão adorar”, comentou Neide.

Dona de um estande na Feira de Toritama, Neide tem produção própria. No entanto, ela não confecciona sequer uma peça. Toda a sua produção é terceirizada. “Para esta calça chegar à loja, passa por oito pessoas. Compro a peça, mando cortar e depois cada costureira é responsável por montar uma parte de peça”, explicou.