As denúncias do Arcebispo: é caso para o MPE e Givaldo Carimbão não pode se dar ao luxo do silêncio

20/02/2017 09:49 - Blog do Vilar
Por Lula Vilar
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Trataria deste assunto aqui antes, mas diante da chegada do fim de semana, não consegui. Por isto retorno ao tema após o CadaMinuto ter feito matéria sobre a posição da Arquidiocese de Maceió quanto ao uso político da Rede Cristã de Acolhimento. Não é a primeira vez que o arcebispo Dom Antônio Muniz toca no tema. Eis o que torna a denúncia ainda mais grave.

Não é citado nominalmente o padrinho político da pasta. Mas, por lógica, se a denúncia é troca de atendimento por voto, isto – caso seja verdade – só pode vir a beneficiar quem faz parte do governo. Sendo mais específico, quem apadrinha a pasta. No caso, é de bom tom que o deputado federal Givaldo Carimbão (PHS) fale sobre o assunto.

Para quem duvida do poder de Carimbão sobre a pasta. Eis aqui:

Não se trata de julgar o parlamentar. Mas dele dizer se sabe o que está acontecendo ou se o arcebispo está inventando. Então?

Mas, além disto: quem deve ouvir o arcebispo? Eu não tenho dúvidas: o Ministério Público do Estado de Alagoas. Que se investigue com urgência tudo o que o Arcebispado coloca. A denúncia é gravíssima. Dom Antônio Muniz fala de uma realidade em que “privilegia o voto em troca do tratamento de dependentes químicos”.

Em nota de repúdio, ele coloca que há uma escolha política na seleção das comunidades terapêuticas do Estado de Alagoas, comprometendo a Rede Cristã de Acolhimento. “Preocupa-nos os rumos eleitoreiros que o tratamento à dependência química vem tomando em Alagoas”, diz o arcebispo por meio de nota.

Não são citados nomes de pessoas na nota, mas há três agentes que precisam falar sobre o assunto: 1) o Governo do Estado de Alagoas, consequentemente o governador Renan Filho (PMDB), uma vez que o que arcebispo fala já havia sido dito; 2) a Secretaria de Prevenção à Violência (Seprev) e 3) o padrinho político da pasta: o deputado federal Givaldo Carimbão. É preciso esclarecer esta situação uma vez por todas.

De acordo com a Igreja, há um repúdio “veemente” ao uso da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência “como sustentáculo que alimenta essa engrenagem”. O Arcebispado questiona a capacidade técnica da pasta para praticar encontros meramente político-partidários com as comunidades? Ora, quem é o padrinho político da pasta que poderia se beneficiar e que possui alguma influência em comunidades católicas? O Arcebispado não cita nomes, mas fica claro de quem se fala: o deputado federal Givaldo Carimbão. Por isto o citei no início do texto.

Que Carimbão fale sobre o assunto, pois não cabe apenas a Seprev responder. Ele se sentiu atingindo? É uma pena que a Arquidiocese não escreva isto com todas as letras diante dos fatos tão graves que levanta.

“Diante dos danos que decorrem dessa politicagem, a Política sobre Drogas deve ser prioridade e não um negócio pouco transparente de grupos restritos de interesse e/ou legendas políticas sem compromisso com um Estado plural”, diz ainda a nota de repúdio da Arquidiocese.

Em janeiro deste ano, Dom Antônio Muniz já havia dito que a Igreja Católica não é capacho do governo. Está correto! Mas ali não era a primeira fez que o arcebispo se manifestava. É preciso recordar que no final do ano passado foi estabelecido um decreto para regulamentar e punir comunidades terapêuticas com algum vínculo político-partidário. O que faz o arcebispo falar novamente no assunto, basta usar a lógica!, é o fato do problema ter permanecido o mesmo ou se agravado.

Eis o que o arcebispo disse na época: "O foco deixa de ser o dependente químico para ser a reeleição do político que 'ajuda' tal comunidade. Não se pode conceber um centro voltado a tratar de dependentes químicos sob o comando de vereadores, deputados, senadores. Aproveito para dizer que, apesar do decreto, a relação entre Igreja e Estado é de extrema cortesia e educação, inclusive, estive com o governador, por uma hora, antes de tomar a decisão".

O decreto foi publicado em 26 de dezembro de 2016.

Este é um assunto para o Ministério Público Estadual. E diante das acusações que envolve a Seprev, não pode o padrinho político da pasta ficar calado. Como é uma reclamação constante, que resultou até em decreto da Arquidiocese, o governador Renan Filho precisa falar sobre o assunto. Pelo visto o que mais o arcebispo tem encontrado, para voltar mais uma vez ao assunto, são ouvidos de mercadores.

Estou no twitter: @lulavilar

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