Sesau disfarça, mas Alagoas já tem 18 casos de microcefalia

23/11/2015 15:49 - Geral
Por Davi Soares
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Desde setembro deste ano, o alagoano e o brasileiro tomaram conhecimento do aumento do registro de casos de microcefalia no Nordeste. Até a última semana, Alagoas esteve fora deste noticiário, porque não havia revelado registros entre os mais de 400 casos já registrados em 2015. Seria excepcional, se não fosse uma breve arriscada ilusão. O problema de fetos e bebês com cérebros menores que o normal já atingiu 18 registros. Mas o alagoano só soube que vive no quinto estado em maior número de casos essa doença porque a imprensa foi atrás. Mesmo assim, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) segue tratando a informação de interesse público sem a transparência necessária.

Apenas quando foi questionada pela imprensa, na semana passada, a Sesau tornou público o dado sobre a quantidade de casos de microcefalia em Alagoas. Na última terça-feira (17), a pasta da Saúde estadual informou ao CadaMinuto que, de janeiro a 17 de novembro de 2015, apenas três casos haviam sido notificados e que todos eles ocorreram no início do ano. Até então, mesmo tendo ocorrido no começo de 2015, os dados não haviam chegado ao Ministério da Saúde, a ponto de Alagoas ser citada como não tendo nenhum caso da doença que pode ter ligação com o surto de Zika Virus.

Somente na noite de domingo (22), a Sesau demonstrou publicamente que começava a tratar do tema com a gravidade necessária, ao publicar a “Nota de esclarecimento: A microcefalia em AL” (Após este post, a Sesau mudou o link e o título da nota para Nota de esclarecimento sobre os casos de microcefalia em Alagoas) . O documento que não situa o alagoano sobre a quantidade de casos trata da reunião em que o ministro da Saúde, Marcelo Castro, recebeu de secretários da Saúde do Nordeste um alerta oficial sobre a situação vivenciada, solicitando medidas urgentes e mais efetivas.

O curioso é que a nota assinada pela secretária Rozangela Wyszomirska e publicada nos sites da Sesau e Agência Alagoas, ressalte-se, não revelou a quantidade de ocorrências já registradas, apesar de citar quatro vezes a expressão “aumento de casos”. Até o fim desta tarde de segunda-feira (23), a negativa da importância desse dado contrastava com o tímido objetivo de conscientizar e orientar sobre a gravidade do problema e ainda de mobilizar profissionais, pesquisadores e a sociedade para a busca de soluções para o problema.

Reportagem de domingo (22) ainda deixava Alagoas de fora de relação de estados com casos de microcefalia (Fantástico/Rede Globo)

 

Informação desfocada

Somente um alagoano mais curioso e interessado sobre o tema conseguiu ter acesso à informação, disfarçada no rodapé da nota disponibilizada no site. Lá, existe um anexo denominado anexo_22-11-2015_21-56-43_NOTA_TECNICA_MICROCEFALIA_VERSaO_20_NOVEMBRO_1_pdf em que a informação sobre os 18 casos em 2015 é revelada. (Após este post, a Sesau mudou o link e o título do anexo para anexo_24-11-2015_09-36-43_NOTA_TECNICA_MICROCEFALIA_VERSaO_20_NOVEMBRO_1_VERIFICADA_pdf)

Ainda assim, nesta nota técnica, os dados exigem algum esforço de interpretação para o cidadão comum, pois são disponibilizados depois de uma tabela que reforça que haveria somente dois ou três casos em Alagoas, até 18 de novembro, data em que a imprensa, coincidentemente, revelou o caso.

O Ministério da Saúde declarou, em 11 de novembro, Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). Leia o trecho em que a Sesau informa, na nota técnica, a quantidade de casos de microcefalia em Alagoas:

“A partir da declaração de ESPIN a Secretaria de Estado da Saúde emitiu Nota Técnica (17/11/2015) estabelecendo uma definição de caso e a notificação imediata da ocorrência de microcefalia diretamente ao Centro de Informações Estratégicas de Vigilância a Saúde – CIEVS/AL. O CIEVS passou a receber notificações oriundas dos municípios e tem realizado busca ativa de casos nas unidades hospitalares da Capital. O alerta do MS em cadeia nacional e a divulgação da Nota a serviços e aos municípios resultaram no aumento do número de casos, tendo-se atualmente (até 20/11), 3 para 2015, 18 casos, considerando os 3 casos registrados antes da declaração de emergência e mais: 7 casos até 19/11, sendo 5 de recém-nascidos e 2 identificados por meio de ultrassonografia; 10 casos até 20/11, sendo 5 da Capital (Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima e o Hospital UNIMED), 4 de Santana do Ipanema e 1 de Canapi, identificado a partir da ultrassonografia (informados ao CIEVS por e-mail)”

Casos registrados oficialmente em Alagoas:

- 4 em São José da Tapera;

- 3 em Maceió;

- 3 em Santana do Ipanema;

- 2 em Arapiraca;

- 1 em Chã Preta;

- 1 em Coqueiro Seco,

- 1 em Japaratinga;

- 1 em Pariconha

- 1 em Canapi e

- 1 em Girau do Ponciano

Detalhamento

A nota técnica da Sesau, aquela codificada no rodapé da "nota de esclarecimento", é explicado que, dentre os 15 casos identificados após o parto, 4 casos são de São José da Tapera (26,7%), seguindo-se Maceió e Santana do Ipanema com 3 casos cada (20%), depois com um caso cada tem-se Arapiraca, Chã Preta, Coqueiro Seco, Japaratinga e Pariconha. E segue afirmando que "os 3 casos informados por profissionais, a partir do exame de imagem, foram oriundos de Arapiraca, Canapi e Girau do Ponciano. Desses somente o de Arapiraca teve iniciada a investigação o que deve acontecer em relação aos demais para mais informações sobre as circunstâncias que envolveram as ocorrências".

Sobre o local onde foram realizados os partos, a Sesau afirmou na nota técnica que "após a declaração de emergência, Maceió, Arapiraca e Santana do Ipanema concentraram o registro de partos e também de ocorrências. "O município de Santana de Ipanema com 8 casos de recém-nascido suspeitos de microcefalia (53%) possui um hospital regional que atende a demanda dos municípios da 9ª Região de Saúde".

A nota técnica segue: "A análise das 15 ocorrências por tipo de gestação dão conta de 13 casos (86,7%) de gestação única e 2 (13,3%) com gestação gemelar. Quanto à modalidade, 8 (53,3%) foram parto normal e 7 (46,7%) na modalidade cesáreo" 

A nota técnica relaciona ainda as seguintes ações de vigilância sanitária desenvolvidas pela SESAU:

• Divulgação de nota técnica de alerta sobre microcefalias como ESPIN em 17/11/2015.

• Instituição da notificação imediata ao CIEVS/AL.

• Investigação diária de casos junto às unidades hospitalares.

• Coordenação da resposta para este evento junto às SMS.

• Elaboração e divulgação de informes sobre o comportamento do evento.

• Manutenção das atividades de cooperação e apoio aos municípios, especialmente no tocante ao combate ao vetor. 

Como já afirmava o diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, "o cenário pode ser pior do que se imagina". Resta saber até quando uma realidade que preocupa o Brasil inteiro vai seguir sendo tratado como segredo de estado.

Atualização às 20:56

Uma fonte da Sesau garantiu ao Blog que não houve negligência de informações ou disfarce de qualquer natureza. Explicou ainda que a ausência de notificações vindas dos municípios atingidos pelos casos atrasaram a oficialização dos registros.

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